Teatro Nacional: sem habite-se e com 112 irregularidades

Soraya Sobreira, Jornal de Brasília

Um cenário que remete à boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde 242 pessoas morreram em um incêndio. Nada menos que 112 irregularidades  encontradas pelos bombeiros no  Teatro Nacional  levaram o Ministério Público a recomendar a suspensão das atividades no espaço. O teatro não tem Habite-se, alvará de funcionamento e segurança contra incêndio e pânico.

Em abril, o Corpo de Bombeiros fez   vistoria e   identificou 82 irregularidades. A pedido do Ministério Público, em julho, foi feita outra visita, quando verificou-se que as exigências não foram cumpridas e que o número de irregularidades   aumentou para 112. Entre os problemas estão ainda a falta  de sinalização, de extintores de incêndio e de luzes de emergência.

O pedido de fechamento do teatro é da Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb). “Não há como se aguardar. Afinal, a vida não espera. Cabe ao Corpo de Bombeiros a decisão, mas pedimos que eles não liberem”, enfatiza o promotor Dênio Augusto de Oliveira Moura, da Prourb. Para ele, é razoável que se suspendam de imediato as atividades, para   evitar   uma tragédia. O MP deu um prazo de dez dias para o Corpo de Bombeiros e a Secretaria de Cultura emitirem uma resposta.

Desde a inauguração, em 1961, o prédio não tem alvará. A última reforma foi em 1997. A Secretaria de Cultura  argumenta que uma empresa já foi contratada para fazer a reforma, a ser concluída em  um ano. No entanto,   pede  que o monumento funcione   até o início das obras de restauro, em 2014.

A empresa que venceu a licitação do projeto, a Acunha Sole Engenharia, tem  120 dias para entregar o projeto, que deve custar mais de R$ 3 milhões.

Surpresa

O subsecretário de Patrimônio Histórico Artístico e Cultural, José Delvinei, disse que o órgão foi pego de surpresa. “Ainda temos um prazo de 60 dias dado pelo Corpo de Bombeiros, e enquanto estivermos amparados por esse prazo, vamos manter o teatro aberto. É somente uma recomendação, ainda não recebemos nenhum comunicado oficial”, rebateu.

Ele completou afirmando que o local não é inseguro. “Apenas não está de acordo com as novas normativas que mudam constantemente”, justificou.

Apesar de a Secretaria de Cultura ter encaminhado um ofício ao CBMDF solicitando 180 dias para o cumprimento das exigências, o MPDFT decidiu, de forma preventiva, intervir para evitar que qualquer incidente aconteça. “Após a tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), o Poder Público intensificou as fiscalizações a fim de evitar que esse tipo de situação ocorra novamente”, finaliza o promotor.

A Secretaria de Cultura aguarda a finalização do projeto   de reforma  para poder dar início à licitação para a    reforma. A tentativa  é manter o teatro aberto até o fim do ano, pois há eventos marcados até  22 de dezembro. (Colaborou Camila Maxi)

  Ponto de Vista
 Para o diretor artístico Hugo Rodas, os problemas do Teatro Nacional são absolutamente visíveis. “A sala Martins Penna está em uma situação deplorável. O local está em ruínas. Se o que é visível aos olhos não está bem, imagine o que não podemos ver”, dispara. Já o cineasta Vladimir Carvalho define a situação como uma “tragicomédia anunciada”. “Quem não sabia que isso poderia terminar assim? O governo é incapaz de conservar nossa herança, mas gasta bilhões com um estádio. É lamentável o teatro tenha chegado a este ponto”. E Daniel Lima, ator e integrante da Cia Setebelos, destaca que nos bastidores também é possível detectar as deficiências. “O Teatro Nacional é um dos maiores patrimônios que temos. É melhor corrigir os problemas que o prédio possui, antes que aconteça algo”.

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