
Ricardo Penna
Instrumento de interesses oligárquicos a independência da republica, em 1822, proclamada por D. Pedro, não seguiu o ideário iluminista. Ao contrário, a reboque das elites rurais, foram mantidos a economia agroexportadora, os latifúndios e a escravidão. D. João VI quando retornou a Portugal levou pratarias e todo o dinheiro que pode e, diz a história, causou a falência do Banco do Brasil em 1829. O grito do Ipiranga foi uma construção consolidada no famoso quadro do pintor Pedro Américo. Como a história sempre é contada pelos vitoriosos, sete de setembro passou a figurar como a libertação do povo brasileiro do império e a instalação da democracia republicana.
Nos anos que se seguiram ao golpe militar, a independência foi comemorada – na maior parte das vezes- no quartel general do exército, conhecido como Forte Apache, longe das massas, como convinha ao movimento autoritário.
Com o reestabelecimento da normalidade democrática os governos transformaram as comemorações da independência em uma festa popular de congraçamento do povo como seus governantes. Fernando Henrique Cardoso, Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef popularizaram os desfiles que enchiam a esplanada dos ministérios com palavras de ordens em um misto de patriotismo e populismo.
Parece que as coisas mudaram. A montagem da arquibancada na esplanada dos ministérios pretende transformar a festa da república, no próximo sábado, em um aparato insular para proteger as autoridades da massa. A movimentação nas proximidades da presidente da república só acontecerá com crachás e baculejo a procura de objetos suspeitos.
Reinventaram o muro de Berlim. Transformaram o espaço do desfile da independência em um castelo cercado de muros por todos os lados. Afastaram o povo. Ao invés de bandeirinhas spray de pimenta, no lugar de palmas balas de borracha, no lugar de bandeiras do Brasil gás lacrimogêneo. Não seria melhor voltar o desfile para o Forte Apache ou quem sabe fazer uma festinha em petit-comité na Granja do Torto?