Após quatro dias, o primeiro julgamento da Chacina de Unaí terminou na noite desta sexta-feira (30) com os três réus condenados. Rogério Alan Rocha Rios pegou 94 anos de prisão; Erinaldo de Vasconcelos Silva, 76 anos e 20 dias; e William Gomes de Miranda, 56 anos. Ao todo, as penas somam 226 anos. Inicialmente, o trio, que já estava preso, vai cumprir pena em regime fechado.
A juíza da 9ª Vara Raquel Vasconcelos Alves de Lima presidiu o júri, que foi realizado na Justiça Federal, em Belo Horizonte. O conselho de sentença foi formado por cinco mulheres e dois homens.
Um dos acusados, Francisco Elder Pinheiro, que teria contratado os matadores, morreu no dia 7 de janeiro. Com isso, o processo passou a ter oito réus. No dia 17 de setembro, devem ir a júri os acusados de ser mandante e intermediários, respectivamente: Norberto Mânica, Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Carvalho. O julgamento de Antério Mânica ainda não tem data marcada.
Entre as passagens mais marcantes nestes quatro dias de julgamento é possível destacar a confissão de Erinaldo, que afirmou ter matado três das quatro vítimas; e o depoimento do também réu e delator Hugo Pimenta, que apontou Norberto Mânica como o mandante do crime.
Hugo Pimenta, que depôs na condição de informante na quarta-feira (28), disse que presenciou a troca de ligações em que foi dada a ordem de matar as vítimas. Pimenta não falou quais foram os valores oferecidos aos três acusados de serem os assassinos. Mas contou que, posteriormente, Norberto ofereceu R$ 300 mil a Erinaldo para que ele assumisse o crime de latrocínio e R$ 200 mil para Rogério Alan, para ele “se virar”, como disse Pimenta em depoimento.
Durante a oitiva, Pimenta disse que preferia falar de Antério Mânica em outro momento. Segundo o advogado de Pimenta, Lúcio Adolfo, essa opção foi uma estratégia da defesa. Entretanto, em entrevista à imprensa, o defensor afirmou que “existem elementos, sim, que apontam para o Antério. Eles são mais frágeis do que os elementos que existem com relação ao Norberto”.
Perguntado sobre a situação de Antério, o advogado do réu, Marcelo Leonardo, disse que “se as pessoas foram justas e honestas, não o citam, porque ele não tem envolvimento neste caso”.
Já o defensor de Norberto, Alaôr de Almeida Castro, afirmou que o depoimento de Hugo Pimenta traz uma dificuldade maior para a defesa. Porém, o advogado não acredita que seu cliente vá ser condenado.
No interrogatório do réu Erinaldo Vasconcelos Silva, na quinta-feira (29), ele confessou ter atirado em três dos quatro funcionários do Ministério do Trabalho, mortos em 2004. Assim como Hugo Pimenta, Erinaldo apontou Norberto Mânica como o mandante dos assassinatos.
Erinaldo disse ainda que usou uma pistola. A perícia apontou três vítimas mortas pela arma. O réu afirmou também que, à época, recebeu entre R$ 40 mil e R$ 50 mil pelos assassinatos. Ainda segundo Erinaldo, o tiro que matou o auditor Nelson José da Silva foi disparado por um revólver, que teria sido usado por Rogério Alan, outro acusado.
As informações foram dadas depois que a defesa do réu pediu o benefício da delação premiada, instrumento jurídico que permite a redução da pena para quem colabora com o trabalho da Justiça.
Durante o depoimento, a viúva do auditor fiscal Erastóstenes Gonçalves deixou o auditório emocionada.
Antes da sessão desta sexta, o advogado de Erinaldo Silva, Antônio Oliveira Filho, informou que seu cliente fez um desabafo. “O que ele declarou, era o que eu esperava. Ele desabafou e mostrou aos jurados que ele vem contribuindo”, disse. (G1)