
(*) Ricardo Penna
A dinâmica do voto no Distrito Federal é diferente de outros estados da federação. Primeiro porque 30% do eleitorado trabalha no setor público, segundo porque a democracia representativa, na capital, é jovem. Terceiro porque o nível de escolaridade média e renda no DF é muito maior do que nos demais estados e, finalmente, quarto, porque os eleitores formam um cadinho de representantes de todas as regiões.
Aqui Fernando Collor perdeu para Lula e Marina ganhou de Dilma. Dos 84 diferentes deputados distritais eleitos, no total de seis eleições, 32 são representantes corporativos de sua categoria. Professores, médicos, policiais militares, civis e vigilantes elegeram 38% de todos os representantes na história política do DF. Se adicionarmos a esses os representantes de igrejas, somam 43 o total de representantes de grupos específicos da sociedade, ou 51% de todos os deputados eleitos.
A jovem política na capital possibilitou que um médico ou policial fosse eleito, majoritariamente, com o voto de sua categoria e o transformou em um representante de seus interesses na câmara legislativa. Essa é uma das razões que explica as diferenças salariais entre os servidores públicos estaduais do DF e os demais estados. Por outro lado, os altos níveis de escolaridade aumentaram a presença e representação de candidatos de esquerda e o sucesso de partidos como o PT, PPS, PDT e PSOL.
Ficaram órfãos os eleitores de baixa renda, escolaridade e empregados no setor privado. Essas características da política no DF ajudaram a consolidar a falsa polarização entre “bons” e os “maus” e os “santos” e os “demônios”. As próximas eleições estão na porta. Os eleitores candangos estão ganhando experiência e devem votar menos no azul, verde ou vermelho e mais nas propostas que possam construir uma cidade para todos.
(*) Ricardo Penna é Arquiteto, PhD Planejamento Regional, Fotógrafo (CB 1971, Estadao 72/73, Veja 74)