O corredor de ar polar deve subir o continente, chegando até a Colômbia. Um fenômeno com esta intensidade é visto como mais um exemplo da frequência crescente com que os eventos climáticos extremos têm se manifestado no país.
– O fluxo de ar gelado passou pelo Mar de Weddell. Esta é a região da Península Antártica com maior cobertura de gelo marítimo e que, por isso, conserva a maior quantidade de frio na atmosfera — observa o meteorologista Alexandre Aguiar, da MetSul. – A massa de ar polar é muito forte e vai passar por pelo menos duas áreas de baixa pressão no Atlântico Sul, que servirão para catapultar o ar gelado para cima no continente.
As zonas de baixa pressão são regiões onde os eventos sopram no sentido horário e normalmente estão associadas ao mau tempo e a temperaturas baixas. Uma delas estaria perto do Rio da Prata, entre Argentina e Uruguai, e, a outra, no Oceano Atlântico Sul.
A massa de ar polar passará pelo interior do continente. Cortará Rondônia e Acre, por exemplo, chegando até o Sul da Colômbia. Suas barreiras são a Cordilheira dos Andes – que vai impedi-la de se expandir pelo Leste – e o ar quente na Linha do Equador.
Aguiar destaca que, nos últimos cinco anos, a frequência de frio extremo aumentou no Sul do país, comparada ao início da década passada.
– Este fenômeno deve estar relacionado à baixa temperatura do Oceano Pacífico Equatorial, o que aumentou os episódios de La Niña – opina. – Ainda é cedo para concluir a relação do que vemos agora com os prognósticos científicos, mas o clima no Rio Grande do Sul é anárquico. Nunca sabemos exatamente o que esperar. Vemos muito frio este ano, mas o agosto de 2012 foi o mais quente em quase um século.
Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, também menciona o fortalecimento do La Niña. Para o ambientalista, a intensidade da nova frente fria pode colocá-la no rol de eventos extremos que marcaram o país nos últimos anos.
– É difícil assinalar este evento como resultado do aquecimento global, mas os prognósticos apontam para um maior número de eventos extremos, e no Brasil esta lista está crescendo rapidamente – avalia. – Nos últimos dez anos, vimos um furacão em Santa Catarina, duas grandes secas na Amazônia e diversas enchentes no Sul e no Sudeste. Estamos muito vulneráveis, e as autoridades ainda não estão preparadas para atender às emergências.
Nem todos os episódios seguem a lista delineada pelos climatologistas. A intensidade de chuvas no Sul do país, por exemplo, confronta a previsão de que a região ficará cada vez mais seca.
O Paraná será palco de outro evento extremo, se as previsões forem confirmadas, e a neve chegar à região metropolitana de Curitiba.
Em Itatiaia, que registrou recentemente temperaturas abaixo de zero, a neve também é incerta. As camadas do pico fluminense são mais heterogêneas do que as das serras gaúcha e catarinense e, por isso, mais imprevisíveis.
– Pode ser que a temperatura fique abaixo de zero e haja chuva congelada (quando a água chega à superfície formando uma espécie de vidro em volta do objeto em que vai aderir) – descreve o meteorologista Marcelo Pinheiro, do Climatempo. – Mas não vivemos um momento único. Em 1984 e 2000, por exemplo, tivemos outros episódios de massa polar que causaram frio intenso no país.
Entre quarta e quinta-feira, a temperatura na capital fluminense pode ficar abaixo dos 10 graus em locais como o Alto da Boa Vista. A temperatura vai despencar. Ontem, foi de 30 graus Celsius; até sexta-feira, não deve passar dos 16 graus nas regiões mais elevadas da cidade.
– As tempestades diminuem a diferença entre as temperaturas máxima e mínima – explica Aguiar. – A chuva impede o aquecimento durante o dia, mas também contém o resfriamento que viria à noite.
Calor no Hemisfério Norte
Enquanto o Sul do Brasil testemunha a chegada da neve, o Hemisfério Norte sofre com uma grande onda de calor. No Vale da Morte, na Costa Oeste dos EUA, os termômetros chegaram a 54 graus Celsius – o recorde local é de 56 graus, registrado em 1913. O calor já atinge 21 estados.
O Reino Unido, por sua vez, passa pelo verão mais quente dos últimos sete anos, e as autoridades pedem para que a população beba muito líquido e fique atenta às crianças e aos idosos, os mais vulneráveis à insolação. Centenas de britânicos já morreram até agora por causa do calor. Informações de O Globo.