A gênese das manifestações que ocuparam as ruas de todo o país aguarda para ser decifrada. Até agora está devorando os intérpretes e estudiosos dos movimentos de massa. A grande imprensa começou, sem rumo, atordoada. Primeiro criticou os arruaceiros, depois passou a elogiar os jovens nacionalistas que haviam despertado o gigante. Vários simpatizantes do governo afirmaram tratar-se de um movimento de direita, liderado pela classe média, contra o lulo-petismo. Quase todos notaram que não havia lideranças e nem demandas específicas. O grito, difuso e horizontal, clamava por transporte, saúde, educação, mais ou menos, nessa ordem.
As ruas foram tomadas de assalto por milhares de manifestantes. Parecia crescer em intensidade e virulência. Ledo engano. Dispersou para dezenas de cidades com poucos manifestantes, mas criando muito transtorno nas principais estradas brasileiras. Hoje as manifestações são pontuais, em poucas cidades, e com demandas muito específicas.
Lideranças do partido dos trabalhadores tentaram se juntar às ruas, não tiveram sucesso, mas não desistiram. O presidente do partido afirmou que a CUT vai estar unida às demais centrais sindicais nas manifestações do Dia Nacional de Lutas marcadas para o próximo dia 11, quinta-feira, em todo o país. A Força Sindical afirmou que não vai aceitar a “apropriação” do movimento.
A situação é instável nas ruas, na economia e no congresso. Constituinte exclusiva, plebiscito, médicos cubanos são apenas a ponta do iceberg. A rua e a economia desorganizaram as estratégias dos candidatos à presidência, desarrumaram a base de apoio político do governo e tornaram as previsões do futuro muito arriscadas.
(*) Ricardo Penna é Arquiteto, PhD Planejamento Regional, Fotógrafo (CB 1971, Estadao 72/73, Veja 74)