
(*) Ricardo Penna
Reza a lenda que Oscar Niemeyer não gosta da ponte JK. Dizia que era grande demais, pesada demais e que interrompia o perfil discreto do horizonte de Brasília. As más línguas diziam, no entanto, que ele tinha inveja da fama e admiração que a obra, construída por Roriz, ganhou. Atualmente é considerada tão bonita, que disputa o primeiro lugar com as colunas do Palácio do Alvorada como a marca-símbolo da capital.
Lendas à parte, não restam dúvidas que a ponte Costa e Silva, desenhada por Niemeyer, tem uma singeleza fenomenal. Toca os dois lados do lago com leveza de uma garça e é praticamente invisível na paisagem urbana. No item elegância, dá de dez na ponte JK.
O mesmo não se pode dizer da Torre Digital. Seu objetivo é aparecer, ficar maior e imponente no horizonte. Fincada como faca no cocuruto da região do Paranoá, de lá observa e é observada por todos. A arquitetura da torre, não resta dúvida, é exótica. Como tudo que foge de patrões tradicionais é amada e odiada. Para uns trata-se de orelhas mal colocadas, para outros a marca registrada do gênio Oscar Niemeyer. Importante mesmo é que ninguém fica impassível diante do monumento. Não é possível deixar de notar a imponência da Torre Digital emoldurada pelas tortas árvores do cerrado como se fosse um OVNI em descanso.
Com um mirante a 120 metros de altura, com capacidade para 74 pessoas, lá está uma das últimas obras do maior gênio da arquitetura nacional. Pronta, acabada e a disposição para irradiar os sinais digitais que irão inundar nossas televisões, mas fechada para visitação durante a semana. Frustração para milhares de turistas que buscam uma vista em 360º de todo o Distrito Federal.
(*) Ricardo Penna é Arquiteto, PhD Planejamento Regional, Fotógrafo (CB 1971, Estadao 72/73, Veja 74)