
(*) Ricardo Penna
Eram dezessete horas e dez minutos. Todas as entradas e saídas da rodoviária de Brasília foram fechadas por empregados de empresas de ônibus, que temiam perder o emprego com a entrada de novas prestadoras de serviço, no sistema público de transporte do DF. Estacionei o carro, próximo ao Museu Nacional, em um das pistas que corta verticalmente o eixo monumental. Nas novas e sinuantes calçadas caminhavam, com rapidez, centenas de pessoas que se dirigiam à rodoviária. Tinham pressa em chegar, mas sabiam que a volta para casa seria longa e penosa. Nas ruas não haviam carros. Os espaços vazios no eixo monumental eram ocupados por milhares de ônibus, todos eles vazios, todos eles ligados.
Caminhei um quilometro até a rodoviária. O clima, estranhamente, não era de tensão. Os passageiros pareciam solidários às manifestações. Gritavam e, muitas vezes, incitavam às depredações. Nem uma nem duas vezes escutei: coloca fogo!…quebra! Ali estavam trabalhadores que gastam, em média, todos os dias, três horas no transporte público. Estavam ansiosos, muitas vezes indignados, mas eram solidários às centenas de empregados que retardavam a volta para casa e alongavam as rotinas diárias de trabalho.

O movimento #vamosprarua parece estar gerando desdobramentos. Grupos menores, geograficamente dispersos e com demandas específicas e tópicas começam a surgir. Os conflitos em Taguatinga, São Sebastião e no entorno são uma prova dessa pulverização. A sociedade está em ebulição e os riscos são enormes. Vamos torcer para que as respostas da Presidente Dilma reduza a pressão.
(*) Ricardo Penna é Arquiteto, PhD Planejamento Regional, Fotógrafo (CB 1971, Estadao 72/73, Veja 74)