Juliane Sacerdote_Brasília 247 – A falta de justificativas para a inclusão da compra de 17 mil capas de chuva na licitação para as Copa das Confederações e de 2014 foi crucial para a demissão do comandante geral da Polícia Militar do Distrito Federal. O ex-comandante conversou com os jornalistas nesta quinta-feira 2, um dia depois de ter sido exonerado pelo governador Agnelo Queiroz, que classificou como “ato desmedido” os gastos em uma período que não chove em Brasília.
Suamy Santana fez questão de frisar que não é “corrupto” ou “ladrão”, e que a inclusão da compra dos produtos foi um “erro” do setor administrativo, e não “burrice” da parte dele. “Não sou ladrão, não sou corrupto. Tenho 31 anos de corporação e minha ficha é imaculada. Se alguém falar o contrário, tenho meios judiciais para me defender”, destacou.
O coronel lembrou os momentos difíceis que passou a frente da corporação quando assumiu o comando há quase um ano, na época que a instituição sofria com a chamada Operação Tartaruga, que afetou o atendimento à população e fez os índices de criminalidade dispararem em praticamente todos os pontos da capital do país.
“Assumi em um momento de crise e superamos essa crise. Estamos hoje com menores índices de criminalidade. Agradeço ao governador pela oportunidade e pela confiança”, explicou emocionado. O coronel chegou a interromper a entrevista coletiva em alguns momentos, bastante emocionado, justificando ser muito “coração” e “visceral”.
Suamy Santa explicou ainda que não foi ele quem assinou a autorização para o pregão eletrônico, mas que não “costuma” responsabilizar seus subordinados. “Foi um erro da administração da PM encaminhar essa compra para se juntar ao processo da Copa das Confederações. Estávamos mesmo equipando a tropa, comprando equipamentos de uso individual como capacetes, botas e armamento. As capas de chuva eram uma necessidade e o processo estava parado desde 2010, na antiga gestão”.
Ainda de acordo com o coronel, o pregão eletrônico foi analisado e aprovado pela Procuradoria Geral do Distrito Federal. Mas a assinatura final não foi dele e que como comandante geral da Polícia Militar “não é ordenador de despesas”, mas assume que a “responsabilidade” era sua, por isso “concordava” com a posição do governador Agnelo Queiroz de exonerá-lo do cargo.
Suamy Santana explicou também que o dinheiro pra a compra das capas não seriam “despesas” extras para o GDF, e que o dinheiro já fazia parte do orçamento da Polícia Militar, por meio do Fundo Constitucional.
Capas de chuva
O anúncio de que a corporação iria comprar 17 mil capas ao custo médio de R$ 300 causou espanto na população, que reagiu nas redes sociais nos últimos dois dias. A compra estava orçada em mais de R$ 5 milhões. O edital exigia a compra de produtos resistentes, com faixas refletoras, material anti-chama e outras particularidades que facilitariam o trabalho de rua do policial militar.
Essas exigências, segundo o coronel Suamy Santana, não poderiam ser cumpridas por uma capa de “feira” que custaria R$ 50. Mas deixou claro que o edital não obrigava a Administração Pública a comprar os equipamentos e que o pregão é justamente feito pelo menor preço. “Assumi a corporação com o compromisso de equipar melhor a tropa, e conseguimos comprar outros equipamentos. Precisamos das capas, as nossas estão velhas, já rasgadas”, enfatizou.
“Saio da corporação feliz com a sensação de dever cumprido. Mas também saio triste pela polêmica gerada por algo que foi insignificante. Subestimaram a minha inteligência. Tenho certeza que burro eu não sou. Não seria capaz de comprar 17 mil capas de chuva para a Copa. Seria o cúmulo da idiotice”, finalizou.
Suamy Santana já pediu o encaminhamento para a reserva da Polícia Militar e vai continuar dando aulas em universidade e faculdades da capital do país.
O comando da PM vai ser assumido pelo coronel Joziel de Melo Freire, atual secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública. A posse deve ocorrer nesta sexta-feira 3. Os valores do pregão eletrônico já estão sendo investigados pela Secretaria de Transparência, que deve divulgar nos próximos dias o resultado da auditoria.