Saúde não é questão política: é questão de vida

Liliane Roriz (*) 

 Brasília fez mais um aniversário. Já se passaram 53 outonos desde o dia da sua inauguração. A nossa cidade está mais madura, estabelecida. Guarda ainda títulos como o de “Cidade da Vanguarda”, “Berço do Modernismo”, “Patrimônio Cultural da Humanidade”. Por outro lado, aqui está a tão sonhada Capital Federal: Tão carente em outras áreas. A saúde, por exemplo, uma das mais fragilizadas.

A comemoração de mais um  aniversário traz consigo o tempo de reflexão. Tempo de lembrar o passado e traçar metas para o futuro. Tempo de relembrar da Brasília, que já foi conhecida como a “Capital da Esperança”, idealizada por um médico, Juscelino Kubitschek, que acreditava na ciência e chegou a dizer: “Um dia, todas as enfermidades terão cura”.

Mas o que dizer da nossa Brasília que já perdeu filhos seus por coisas tão pequenas? Aonde está a cura antevista por JK para esta doença tão grave que assola a nossa capital?

É desta terra, donde jorraria leite e mel conforme sonho de Dom Bosco, que bebês morrem no Hospital Regional de Ceilândia, devido à infecção com a bactéria Serratia – que vale ressaltar, é transmitida por absoluta e tão somente falta de higiene. Mas se por um lado faltou o hábito de lavar as mãos para evitar a contaminação de bebês com a bactéria, por outro, o governo parece já ter lavado as suas mãos diante de catástrofes como esta, ou como outras tantas. Ou não poderia ser considerada uma catástrofe, cidadãos à espera de atendimentos e de curas, enfrentando longas filas no Hospital do Gama ou a falta de medicamentos no Hospital de Base? Catástrofe se falar em falta de médicos nos postos de atendimentos na cidade onde existe o maior número de médicos por habitante do Brasil.

No passado, a saúde no DF recebeu muitos investimentos. A começar por dona Sarah, a esposa de JK, que criou o hospital de reabilitação Sarah Kubitschek às margens do Lago Paranoá. Hoje, referência no país. Mas não precisamos ir tão longe. O ex-secretário Jofran Frejat foi um grande gestor. Em 1990, instalou todo o sistema público de saúde do DF. Fez o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), o Hospital de Apoio, o Hospital da Ceilândia (HRC), o Hospital do Guará (HRC), o Hospital de Samambaia (HRS), o Hospital do Paranoá (HSP) e o Hemocentro de Brasília. Os 64 postos de saúde foram idealizados por ele, assim como a Faculdade de Medicina Pública (Fepex).

Por que, então, Brasília deixou de ser referência na saúde? Faço a mesma pergunta, embora já saiba a resposta! Os gestores não conseguem assimilar uma regra básica da administração pública: Saúde não é questão política, é questão de vida. Enquanto priorizam-se outras áreas na cidade e gastam-se bilhões para recebermos um evento como a Copa do Mundo, pessoas morrem nas filas dos hospitais, nos postos de saúde, nas Unidades de Terapia Intensiva.

Há quem diga que a saúde não traz retorno político e, por isso, não é prioridade de governantes. Que a maioria da população não está doente e quer mesmo é pagar menos impostos, ver em sua cidade um canteiro de obras. Mas quem pensa assim, a meu ver, está invertendo os valores. Não adianta investir tanto no esporte, por exemplo, se o povo está doente. Uma obra faraônica como o nosso estádio seria muito mais bem-vinda se para cada centavo utilizado naquele canteiro de obras, por exemplo, tivesse um real para ser destinado à saúde, para cuidar da nossa gente. Não é uma conta difícil. Basta saber uma regra básica: a da prioridade.

No aniversário de Brasília, esta cidade merece ganhar um belo presente. Mas não aquele sem utilidade, que só tem visual. Um presente duradouro, que ultrapasse o tempo. Como mais Sarah Kubitschek, mais hospitais, Hemocentro, centros de saúde. E, claro, valorizar quem acabou ficando doente depois de tanto tempo cuidando da saúde do povo: o servidor. Médicos, enfermeiros, técnicos, motoristas, administrativos, enfim, todos sendo tratados de forma isonômica, sem privilégios. E fazer isso sem pensar em retorno político. É uma questão de justiça!

O voto não pode ser mais importante que a vida. A prioridade de um governante deve ser sempre o seu povo. Não temos mais tempo para perder. Já passou da hora de perceber que quem tem compromisso com a cidade deve agir e esquecer a política eleitoreira. Parar de apontar possíveis erros de um passado recente ou distante para tentar justificar, ou pior, esconder a incompetência do presente. Chegou a hora de Brasília voltar a ser a “Capital da Esperança”. Com menos politicagem e mais atenção ao ser humano.

 (*) Liliane Roriz é deputada distrital pelo PSD

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