Um estudo detalhado da indústria chinesa, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), revela que os empresários brasileiros não competem apenas com os concorrentes orientais, mas também com o próprio estado comunista. De acordo com o “Relatório das políticas industriais chinesas” feito em parceria com o escritório americano King & Spalding, e cedido com exclusividade ao Brasil Econômico, subsídios fiscais, controle de preços e até doações de terras a produtores locais estão entre as práticas adotadas pelo Partido Comunista chinês para alavancar a competitividade da indústria.
Mais de sete setores produtivos com grande participação na pauta exportadora do país recebem incentivos fiscais e inanciamentos especiais para baixar ainda mais o custo de produção. O diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes, afirmou que a concorrência com os chineses afeta uma em cada quatro empresas brasileiras e 67% dos exportadores registram perdas de clientes externos para a China.
“O processo de crescimento e diversificação da produção industrial chinesa trouxe oportunidades para alguns setores produtivos no Brasil, mas introduziu grandes desafios para a maioria dos setores industriais brasileiros, que viram afetadas suas posições no mercado doméstico”, afirma Fernandes.
Segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, os efeitos sobre a indústria brasileira já são conhecidos. Ele afirma que as análises feitas demonstram que uma parcela da redução da produção industrial brasileira está associada à emersão da China como grande potência exportadora.
“Essa redução, ou até mesmo a estagnação em alguns casos, pode ter ocorrido porque parte dos setores industriais no Brasil tiveram suas exportações em terceiros mercados deslocadas, a começar pelos Estados Unidos e pela União Europeia”, explica. Sua preocupação no momento é um dos mais tradicionais mercados brasileiros, o latino-americano.
Além das dificuldades que o modelo de incentivos chineses impõe aos produtores brasileiros, a CNI reclama que o governo comunista tem uma participação excessiva na economia. Do produto Interno Bruto (PIB), as empresas estatais respondem por 40%.
Em setores estratégicos, como os metalúrgico, calçadista e têxtil, até mesmo terras são doadas para os industriais locais se sobressaírem na concorrência. “O governo cobra preços mais altos das empresas estrangeiras do que das nacionais. A província de Shanxi, por exemplo, oferece um desconto de 30% nos preços de terra para empresas que querem investir em parques industriais”, diz o estudo.
Para Carlos Abijaodi, os industriais brasileiros devem entrar com processos na Organização Mundial do Comércio (OMC) para pedir medidas compensatórias aos subsídios chineses.