Planalto cogita perder até dez ministros

Luiza Damé e Catarina Alencastro, O Globo

  A presidente Dilma Rousseff mal concluiu a reforma ministerial e  já surgem as especulações no Congresso e no próprio governo sobre a próxima  mexida geral que ocorrerá na Esplanada dos Ministérios para tapar os buracos que  serão deixados por conta das eleições de 2014. O Palácio do Planalto trabalha  com uma lista de, no mínimo, dez ministros-candidatos, que sairão em abril do  próximo ano para concorrer a governador, senador ou deputado federal. Esse  número poderá chegar a 14, obrigando a presidente a uma grande reformulação no  primeiro escalão.Porém, políticos experientes avaliam que, a um ano do início da disputa para  valer, o número de potenciais candidatos é inflado, o que também alimenta o  clima de barganha, com a tentativa de negociação de outros cargos no governo.

— Quando está longe das eleições, sempre há mais candidatos. É claro que  vários ministros vão se afastar para as eleições, mas não nesse número. Eu vejo  sete ou oito com possibilidade de concorrer. Isso é natural. Quando eles foram  nomeados, a presidente já sabia que eles iriam se afastar para, pelo menos,  renovar o mandato de deputado ou senador — acredita o líder do PT no Senado,  Wellington Dias, ex-governador do Piauí.

Nos bastidores do governo já se fala num arranjo semelhante ao adotado pelo  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: seriam indicados secretários-executivos  e técnicos para concluir o mandato ao lado de Dilma, que estará, ela própria, em  plena campanha à reeleição. Esse esquema enfrenta resistências, pois alguns  ministros têm papel eminentemente político, caso por exemplo da Secretaria de  Relações Institucionais, cuja missão é fazer a ponte entre o Planalto e o  Congresso.

A titular da pasta, Ideli Salvatti, deve concorrer ao Senado, mas depende de  uma composição com o PMDB, hoje aliado do governador de Santa Catarina, Raimundo  Colombo (PSD). Nos cenários analisados, o PT pode lançar chapa pura no estado.  Nas duas situações, Ideli tentaria voltar ao Senado.

— O natural, para não prejudicar o andamento do governo, é colocar alguém do  ministério, que já tem conhecimento dos projetos. O secretário-executivo, que  tem a obrigação de dominar os temas do ministério, é o substituto natural. Assim  não há quebra nas coisas nem prejuízo para o interesse do povo. O ano eleitoral  já não é fácil, há uma série de restrições; se há uma mudança radical na equipe,  nos últimos meses do governo, certamente vai prejudicar o ritmo do plano de  governo — defende o senador petista.

A intensa disputa por São Paulo

O governo de São Paulo é o cargo com maior número de postulantes na  Esplanada: cinco. Esperam uma decisão do PT: Aloizio Mercadante (Educação),  Alexandre Padilha (Saúde), Marta Suplicy (Cultura), José Eduardo Cardozo  (Justiça) e Guido Mantega (Fazenda). Bastante próximo da presidente, Mercadante  é o curinga. Tanto pode ser candidato a governador de São Paulo como  coordenador-geral da campanha da reeleição de Dilma, ou ir para a Casa Civil, na  vaga de Gleisi Hoffmann, que deverá concorrer ao governo do Paraná.

Gleisi, aliás, tem ocupado todo o tempo do PT nas inserções partidárias no  estado, mas seus aliados gostariam que ela fosse mais presente nos eventos  políticos de lá. Nos programas de rádio e TV, ela sempre ressalta que, ao lado  da presidente Dilma, tem ajudado a melhorar a vida dos brasileiros. A ministra  enfrentará o tucano Beto Richa, que tentará se reeleger. A ministra se movimenta  para evitar que o PMDB, que tem uma secretaria no governo tucano, feche com  Richa na campanha de 2014.

— A Gleisi tem vindo pouco ao estado, não participa de muitas agendas  públicas, mas sua presença na mídia é muito forte. Tudo o que ela faz no governo  aparece com destaque. Ela tem sido também a protagonista das inserções do  partido. Embora as pesquisas não sejam muito confiáveis, já há um indicativo de  que ela esteja empatada nas intenções de voto com o Beto Richa — diz um aliado  do Planalto.

O ministro Cardozo — que integrou o trio de coordenadores da campanha do PT  em 2010, chamado por Dilma de “Três Porquinhos”, ao lado de Antonio Palocci e  Fernando Pimentel — dificilmente ficará na Esplanada durante o processo  eleitoral. Além de ser um dos nomes do PT para o governo de São Paulo, é forte  também para assumir a coordenação geral da campanha da reeleição de Dilma. O  ministro Fernando Pimentel (do Desenvolvimento), que também poderia coordenar a  campanha, quer mesmo é ser candidato a governador de Minas Gerais.

Parlamentares querem reeleição

A ideia de Mantega disputar o governo de São Paulo foi lançada pelo  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já teria sondado o ministro a  respeito, mais como uma espécie de “balão de ensaio”, para conhecer a reação.  Segundo assessores do governo, Mantega teria descartado essa possibilidade no  início, mas depois passou a considerá-la.

Sobre Marta Suplicy, interlocutores do governo afirmam que, embora tenha sido  prestigiada pela presidente Dilma com um ministério, gostaria de tentar  novamente o comando do Palácio dos Bandeirantes. Ministro que circula bem com  Dilma e Lula, Padilha também aparece como um nome para o governo de São Paulo,  mas teria de transferir seu domicílio eleitoral de Santarém (PA). Setores do PT  do Pará gostariam que o ministro disputasse o governo daquele estado. Até  sugeriram que Padilha seja a estrela do programa político do PT no Pará, em  junho.

Deputados que deixaram a Câmara para virar um dos 38 mais importantes  integrantes do governo também terão de escolher entre renovar o mandato ou  permanecer na Esplanada. Aldo Rebelo (Esporte) já decidiu que será candidato,  abandonando o posto no meio do projeto da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Ele  tentará renovar seu mandato como deputado ou arriscará um voo mais alto, no  Senado.

Deputados gaúchos, Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário) e Maria do Rosário  (Direitos Humanos) também são cotados para o Senado. Gastão Vieira (Turismo),  Antônio Andrade (Agricultura), Leônidas Cristino (Portos) e Aguinaldo Ribeiro  (Cidades) devem disputar as eleições da Câmara dos Deputados.

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