Economia ‘à la Dilma’ gera preocupação

 Ao falar constantemente de assuntos delicados no terreno  econômico, a presidente Dilma Rousseff tem deixado cada vez mais claro que o  principal formulador de sua política econômica é ela própria. Dilma dá recados  ao mercado, interfere diretamente na preparação de medidas e discute detalhes  com técnicos do Ministério da Fazenda e de outras pastas, muitas vezes, sem  falar com os titulares. Esse estilo tem gerado preocupação e constrangimento  entre integrantes da equipe econômica.

Isso porque, ao se dirigir diretamente ao mercado, Dilma interfere na  comunicação do governo com os agentes financeiros e enfraquece a imagem dos  chefes de sua equipe: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do  Banco Central, Alexandre Tombini. Essa conduta é considerada perigosa em  momentos como agora, quando há alta liquidez e instabilidade na economia  mundial.

Num episódio recente, a presidente disse, durante reunião dos países dos  Brics na África do Sul, que não concorda com medidas de combate à inflação que  comprometam o crescimento da economia. A declaração, dada ao lado de Tombini e  Mantega, foi feita na frente de uma plateia de jornalistas. Imediatamente o  mercado interpretou a frase como uma pressão para que o BC segurasse os juros  num momento delicado, em que a inflação está alta.

O IPCA acumulado em 12 meses fechados em março atingiu 6,59%, superando o  teto da meta fixada para o ano, que é de 6,5%. Logo depois da repercussão  negativa de seu comentário sobre inflação, Dilma mandou Tombini tentar consertar  a situação usando a imprensa e chegou a dizer que suas palavras foram  manipuladas.

— A presidente não deveria falar tão frequentemente sobre questões  conjunturais da economia. Muito menos bater boca com pessoas ligadas ao mercado  financeiro, como aconteceu recentemente na África do Sul. Este comportamento  traz desgastes desnecessários e passa a impressão de que seus ministros não têm  autonomia para conduzir o dia a dia de suas áreas. No caso de assuntos relativos  ao Banco Central esse desconforto é ainda maior, pois existe o tal pressuposto  da independência operacional de nossa autoridade monetária — afirmou o  economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e  sócio-fundador da Quest Investimentos.

Já o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, ressaltou que  uma sinalização errada ao mercado pode causar estragos na economia num momento  em que há muita volatilidade e onde uma fuga de capitais pode ocorrer  facilmente.

— Não há problema no fato de a presidente falar de economia. Isso é comum.  Mas é preciso ter cuidado na comunicação com o mercado. Vivemos tempos muito  líquidos. Isso acarreta um peso muito grande à coordenação das expectativas dos  agentes — afirma Perfeito. — O que me incomoda um pouco é um viés ideologizado  que ela adota e que vê no mercado um antagonista.

‘Mais clareza e sem dubiedades’

Para Mendonça de Barros, o país está perdendo a batalha da comunicação com os  investidores em mercados de ações e de títulos brasileiros, os chamados  investidores em portfólio.

— Não por outra razão o mercado de ações brasileiro é um dos que mais vem  sofrendo na comunidade dos países emergentes. Este grupo de investidores é muito  sensível à postura do governo em relação à liberdade dos mercados e dos  compromissos macroeconômicos de ordem geral. O governo precisa passar aos  investidores com mais clareza e sem dubiedades os principais objetivos de sua  política econômica — disse.

Nos bastidores, os técnicos do governo garantem que o BC tem autonomia de  fato e que a presidente dá total liberdade para que a autoridade monetária  avalie a necessidade ou não de subir os juros. No entanto, não é isso que ela  passa quando fala publicamente.

A impressão de que a presidente interfere diretamente nas ações do Comitê de  Política Monetária (Copom) se tornou tão forte que há quem diga que o BC subirá  os juros já na próxima semana só para mostrar que é independente e não age de  forma leniente com a inflação.

Outro problema apontado pelos técnicos do próprio governo na postura de Dilma  é que, por entender de economia e ter o chamado estilo “gerentona”, a presidente  acaba acelerando o anúncio de medidas que ainda não estavam completamente  fechadas ou atrasando o andamento de projetos que precisam sair do papel. Um  exemplo disso foi a desoneração da cesta básica, que deveria ser anunciada em  maio. Preocupada com a alta da inflação, a presidente decidiu na última hora  anunciar a redução dos impostos no Dia Internacional da Mulher (8 de março) para  tentar segurar os preços dos alimentos.

Como sempre, a Receita Federal fez simulações como uma enorme lista de  produtos que poderiam ser incluídos ou não no benefício. Assim, o valor da  renúncia poderia variar de R$ 3 bilhões a R$ 7 bilhões. O maior valor acabou  sendo o escolhido. No entanto, até o último minuto, os técnicos do Fisco e do  Tesouro não sabiam com qual número deveriam trabalhar. Informações de O Globo.

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