Brasil cresce, e quatro grandes montadoras ficam abaixo de 70% das vendas

Fernando Calmon, colunista do UOL

Conhecidos os resultados consolidados da indústria automobilística em março, que a Anfavea (associação das fabricantes) divulga todos os meses, poucos atentaram a um dado estatístico. Pela primeira vez as quatro maiores marcas — Fiat, Ford, GM e Volkswagen — alcançaram 68,6% dos automóveis e utilitários leves comercializados [68,49% na soma da Fenabrave, associação das concessionárias]. Ou seja, ainda representam pouco mais de dois terços das vendas, mas pela primeira vez abaixo de 70%.

Não é tão incomum, em outros países, as quatro maiores marcas dominarem cerca de dois terços do comércio interno, ao contrário do que muitos pensam. Japão e Índia são dois exemplos. Ou seja, a concorrência aqui é feroz e as quatro maiores tendem a perder participação de forma mais acelerada.

 

NÚMEROS NÃO MENTEM

  • ReproduçãoNa compilação da Fenabrave, assim como na da Anfavea, as quatro grandes somam menos de 70% do mercado em março/13

Esse surto de novas marcas vem em razão do rápido crescimento das vendas no Brasil, quarto maior mercado mundial e quase 4 milhões de unidades (com caminhões e ônibus) ao fim de 2013. Isso significou lucros crescentes, mas desalinhados do resto do mundo?

Segundo Carlos Gomes, presidente da PSA Peugeot Citroën Brasil e América Latina, cerca de 70 milhões de veículos leves produzidos no mundo, em 2012, deixaram lucro aproximado de US$ 50 bilhões. Desse total, US$ 18 bilhões foram ganhos na América do Norte; US$ 17 bilhões, na China; US$ 4 bilhões, na América Latina; US$ 2 bilhões, na Europa e US$ 9 bilhões no resto do mundo. Nossa região representou 8% das vendas e 8% dos lucros. América do Norte, 22% e 36%, respectivamente. Quem está mal mesmo é a Europa: 22% e apenas 4%.

Nos EUA há grandes distorções. Picapes e SUVs (45% das vendas) lá são considerados caminhões leves. Mas as margens são até quatro vezes maiores do que as de automóveis, o que não se considerou em pesquisa atribuída à consultoria IHS e ao Sindipeças. Pormenor: nos EUA não há importação de picapes pois o imposto tem alíquota de 25%, cerca de dez vezes superior ao de automóveis, desproporcionalidade única no mundo. Em carros ganha-se um tantinho e em picapes/SUVs, um tantão

Outro estudo recente, do Instituto de Planejamento Tributário, comparou preços com e sem impostos de algumas mercadorias nos EUA, Itália e Brasil. Claro, aqui tudo muito mais caro. Escolheram o Corolla entre os automóveis, mas só o confrontaram com os EUA, alegando ser modelo indisponível na Itália. Poderiam ter elegido o Focus, vendido nos três continentes. Será porque, sem impostos, a diferença de preço é pequena, ao contrário dos itens pesquisados?

TEM DE SER LOGO De qualquer forma o cenário obrigará a diminuir a defasagem dos lançamentos, com impactos sobre rentabilidade. O site inglês just-auto chama a atenção de que mercados emergentes desejam comprar logo os carros expostos todos os dias na internet. E citou o caso da Honda, que decidiu descentralizar desenvolvimento e compras já a partir do novo Fit, antecipando seu lançamento aqui, em 2014. Até afirmou que a filial duplicará o número de engenheiros no país.

É o caso também da Fiat. Em Pernambuco produzirá crossover utilitário e picape média dele derivada já em 2015. Em 2016, versão utilitária para a marca Jeep e sedã médio baseado no Dodge Dart/Fiat Viaggio. Para Minas Gerais, ficará o subcompacto sucessor do Mille, em 2015. Tudo com forte participação técnica de brasileiros para agilizar.

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