Carlos Albuquerque, O Globo
Como um ZZ Top com brilho glitter, como já falou alguém, o grupo combina peso e groove de bastante particular, como demonstraram músicas como “Howlin’ for you” e “Next girl”, a arrepiante dobradinha que abriu a apresentação. “Little black submarines”, levada por Auerbach no violão, foi um breve momento de suavidade, logo quebrada por “Money maker” e “Strange times”. A indiscutível estrela da noite “pesada” do festival fechou a festa com “I got mine”.
Queens of the Stone Age
De baterista novo (Jon Theodore, importado do Mars Volta), o Queens of The Stone Age – que carrega o DNA do poderoso e subestimado Kyuss – pegou pesado, como sempre, em sua aparição no Lollapalooza. Com seus súditos ocupando uma área que ia quase até o outro palco em frente, o grupo de Palm Springs ficou a vontade para estrear também música nova (“My god is the sun”) num set sem firulas e gorduras, comandado pela venerável figura de Josh Homme.
Da primeira (“The lost art of keeping a secret”) à última música (“A song for the deaf”, com seus falsos finais), não houve quedas de energia na turma da Idade da Pedra.
– É um prazer estar aqui curtindo e bebendo com vocês – afirmou Homme, dando o clima da apresentação, que teve espaço até para uma balada (machona, claro), a divertida “Make it wit chu”.
Alabama Shakes
Com apenas um disco na manga (“Boys & girls”), o grupo americano Alabama Shakes fez o que podia na sua estreia no Brasil: confirmou ter uma excelente cantora (Brittany Howard), apresentou um punhado de boas canções, mas por conta de sua própria imaturidade não chegou a esquentar a plateia do Lollapalooza. Reciclando o melhor do soul e do rock sulista, safra 1970, mas sem acrescentar algum elemento novo ou original à essa receita, o grupo fez uma apresentação morna, apoiada em músicas como “Hold on”, “Be mine”, “I found you” e “Always right”. Talvez num lugar menor – como o Circo Voador, onde o grupo se apresenta, na próxima segunda-feira – a esperada chama do Alabama Shakes se acenda realmente.
Two Door Cinema Club
Repetindo a atuação animada do dia anterior no Rio de Janeiro, que levou uma penca de gente ao Circo Voador, os norte-irlandeses do Two Door Cinema Club mostraram por que conquistaram uma multidão de fãs no Brasil: show repleto de hits, como “What you know” (do disco “Tourist History”, de 2010). A plateia respondeu pulando muito. Eles souberam mesclar bem as canções mais famosas com as do disco mais recente, “Beacon”, lançado em setembro do ano passado.
Gary Clark Jr.
Em meio ao colorido painel musical do Lollapalooza 2013, Gary Clark Jr desfilou representando os tons básicos. Alto, de camiseta e calça preta, quase um clone do ator Samuel L Jackson, o guitarrista americano tentou se comunicar com o público no idioma do blues elétrico, ensinado por gente de peso como Stevie Ray Vaughan e Eric Clapton.
Mesmo correndo pela raia de fora – boa parte das pessoas parecia apenas contar o tempo para o começo do Two Door Cinema Club – e sofrendo com problemas no som, sem mencionar o pavoroso cheiro de esterco ao lado do palco, resultado da chuva no dia anterior, ele fez bonito, demonstrando habilidade no instrumento (chegou a simular um scratch nas cordas) e citando Jimi Hendrix (“Third stone from the sun” em “If you love me like you say”) e Stones (“(I can’t get no) Satisfaction”). Acabou saindo palco aplaudido, ao menos por respeito, com “Bright lights”.
Toro y Moi
Mais sorte teve Chaz Bundic (vulgo Toro Y Moi), que veio antes, com um show redondo, em alto e bom som, apresentando o material do seu mais recente disco,”Anything in return”. Diferentemente de sua hesitante apresentação no Planeta Terra há dois anos, ele mostrou estar mais à vontade no palco, ao lado de sua banda, e que amadureceu o seu estilo, antes chamado de chillwave e agora mais próximo de uma ensolarada soul disco, cristalizada pela música “So many details”, com que encerrou o show.
Estrutura
Na Sexta-feira Santa, o dia foi marcado por filas para trocar ingresso comprado na internet nas bilheterias do Jockey Club paulista. E também pela lama gerada pela chuva. Neste sábado, as filas diminuíram, mas ainda pode-se levar até 50 minutos para entrar no local. Recomenda-se evitar os portões 6 e 2, que são mais próximos das estações de metrô e ônibus. Quem comprou ingressos com carteirinha de estudante precisa ter o documento em mãos e se direcionar para uma fila especial.