Investigação sobre Manguinhos vazou, diz revista

O Globo

 Reportagem publicada na revista “Veja” desta semana informa que uma operação sigilosa no Rio de Janeiro pode ter vazado para os investigados, entre eles, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A investigação era por tráfico de influência. Um relatório da Polícia Civil do Rio, ao qual a revista diz ter acesso, afirma que os investigados mudaram de comportamento e passaram a conversar no telefone apenas assuntos pessoais — o que indicaria que eles sabiam que estavam sob escuta.

Como O GLOBO mostrou em uma série de reportagens publicada em novembro de 2010, um parlamentar do Rio era investigado por comandar fraudes e um esquema milionário de sonegação fiscal comandado pelo dono da refinaria de Manguinhos, Ricardo Magro. Cunha então afirmou que era ele o parlamentar investigado.

Agora, segundo a “Veja”, o trabalho da polícia teria sido prejudicado a partir do dia 21 de setembro de 2009. De acordo com a reportagem, 21 de setembro é também a data em que Cunha recebeu uma ligação do então procurador-geral de Justiça do Rio, Cláudio Lopes, e teria ido até a sala do procurador. Ao sair de lá, ligou para Magro, e sugeriu que eles se comunicassem por MSN. A partir desta data, quando então o grupo estaria ciente de que era vigiado, as investigações não avançaram mais.

  “ (…) após o dia 21/09, data em que a íntegra dos presentes autos foi encaminhada ao Ministério Público por requisição do Promotor de Justiça que atuava na investigação, os alvos interceptados passaram a apresentar um comportamento diferente daquele demonstrado nos outros períodos de interceptação: alguns simplesmente pararam de falar (…)”, diz trecho do relatório da polícia.

  Oito meses de investigação

  Em oito meses de investigação a polícia seguiu, filmou e grampeou Cunha, o senador Edson Lobão Filho (PMDB-MA) e mais dez pessoas ligadas ao dono da refinaria de Manguinhos. Os investigadores “flagraram conversas comprometedoras e até viagens e shows, que não deixam dúvida sobre o estreito elo entre os dois políticos e o empresário”, afirma a revista.

  De acordo com a “Veja”, Lopes, em 18 de setembro de 2009, teria pedido os autos do inquérito relativo a Cunha. O promotor David Francisco de Faria, da Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal do MP estadual, entregou a papelada. Mas não sem antes reclamar. Ele teria dito a policiais que nunca havia recebido ordem parecida em uma década de carreira. David Francisco deixou o cargo dois meses após o ocorrido.

  As investigações sobre as ligações de Cunha com o esquema fazem parte de um inquérito sob análise no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a “Veja”, Eduardo Cunha e Ricardo Magro se falavam até nove vezes por dia. Em 25 de agosto de 2009, Magro teria pedido a Cunha que ajudasse a Braskem (petroquímica da qual a Petrobras é sócia) a vender gasolina a Manguinhos. Cunha prometeu ajudá-lo. No dia seguinte, avisou que tinha notícias “lá da Braskem”.

Manguinhos: procurador diz que não alertou Cunha

Atualmente procurador de Justiça, Cláudio Lopes negou nesta sexta-feira ao GLOBO ter alertado qualquer pessoa sobre grampos telefônicos. Relatório da Polícia Civil, ao qual a revista “Veja” teve acesso, sustenta que Lopes teria avisado ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre a investigação da refinaria de Manguinhos, da qual era alvo. Lopes classificou as acusações contra ele como “vergonhosas”.

— Não tenho nenhuma intimidade com o deputado Eduardo Cunha. Encontrei com ele umas duas ou três vezes. Uma delas para ver se ele conseguia, junto ao Ministério da Educação, credenciar a Fundação Escola do Ministério Público — revelou o procurador.   Lopes afirmou que foi alertado sobre o inquérito aberto pelo Ministério Público pelo procurador David Farias, então coordenador do Grupo de Combate à Sonegação Fiscal do MP. Lopes, porém, disse “não se lembrar” do nome de Eduardo Cunha no caso:   — O David me alertou (sobre o inquérito). Eu disse que havia pessoas com foro privilegiado e, por isso, provas poderiam ser consideradas nulas. Não queria manchar a imagem do MP. Fiquei sabendo um ano depois que o caso foi para o Supremo. Não me lembro se tratava do Eduardo Cunha. Se houve vazamento, 500 pessoas manipularam. Foi a delegacia que investigou.

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