O Papa e a Empresa Católica

 Mario A. Menezes (*)

Passadas as comemorações da eleição do novo Papa, que como na dos anteriores focaram as qualidades do Sumo Pontífice consonantes com os desafios eclesiais de sua época, parece relevante refletir sobre em que bases materiais estão plantadas as atividades pastorais que dão sustentação doutrinária à Igreja.

         Com 1,1 bilhão de seguidores no mundo, dos quais 133 milhões aqui no Brasil, a Igreja Católica, em sua dimensão empresarial, conta com um mercado que equivale, por exemplo, ao da indústria automotiva, hoje pouco superior a um bilhão de proprietários de veículos em todo o planeta.

         À possível alegação de que não se pode comparar o que o dono de um carro paga à respectiva marca fabricante com o que um católico contribui para a Igreja, é importante lembrar quão diferentes são os custos do que um e outro produzem. Enquanto a fábrica de veículos usa matérias-primas, mão de obra e tecnologias de alto custo, a Igreja conta com esses mesmos, digamos, fatores de produção, a um custo muito baixo, com exceção, certamente, da mão de obra (cardeais, bispos, padres, freiras etc.), que, todavia, não deve se equiparar ao da indústria.

         Embora se reconheça temeroso trabalhar com números produzidos por diferentes fontes e metodologias, para comparar também tão diferentes tipos de atividades – a religiosa e a industrial -, parece possível encontrar alguma base comparativa na análise de dados disponíveis sobre o faturamento de ambas, no Brasil.

Segundo o IBGE, as igrejas daqui arrecadaram, em 2011, R$ 20,6 bilhões, sobre os quais nenhum real foi recolhido pela Receita Federal, por serem isentas de tributação. Se delas fossem cobrados os 7,5% do assalariado que menos imposto paga no Brasil, não menos de R$ 1,5 bilhão seria recolhido aos cofres do Governo Federal, que poderia destiná-lo, por exemplo, ao Programa Fome Zero, para combater a mesma pobreza que padres e pastores tanto lembram em seus sermões.

Considerando que, segundo Censo do IBGE, em 2010, o país tinha 64,6% de católicos, a Empresa Católica deve ter arrecadado aqui, em 2011, algo como R$ 12 bilhões ou US$ 6 bilhões, superando o lucro remetido pelas montadoras de veículos instaladas no país, para as suas matrizes, de US$ 5,5 bilhões. Como as montadoras, também a Igreja daqui remete parte do que arrecada ao Vaticano, onde ajuda a financiar, inclusive, práticas que resultaram nos escândalos financeiros recentemente denunciados.

A Empresa Evangélica também vai de vento em popa, sendo os evangélicos o segmento religioso que mais cresceu no período entre os censos (2000 a 2010). Em 2000, representavam 15,4% da população e em 2010 chegaram a 22,2%, o equivalente a 42,3 milhões de pessoas, um mercado crescente que deve ter abastecido com mais de US$ 2 bilhões os cofres do empreendimento evangélico, em 2011.

 Sendo o Brasil o país mais católico do mundo, muito possivelmente a Igreja não arrecade tanto em algum outro país como arrecada aqui, mas os números denotam o quanto deve ser impressionante o volume de dinheiro que o empreendimento católico amealha mundo afora.

         Não é de se estranhar, portanto, a preocupação do Vaticano com os dados de pesquisa que realizou recentemente mostrando queda do número de fiéis na Europa (-0,01%) e o não significativo crescimento nas Américas (+0,07%).  Ainda segundo a mesma pesquisa, o número de católicos no mundo cresceu 0,04%, dado o aumento na África (+1,8%), Oceania (+1,5%) e Ásia (+0,8%). Todavia, esse percentual de crescimento mundial, ainda que quase insignificante, parece carregar demasiado otimismo, em vista da reconhecida queda do número de seguidores na América Latina, onde estão 40% dos católicos de todo o mundo. Somente no Brasil, a Igreja perdeu 1,7 milhão deles entre 2000 e 2010, a maior parte dos quais cooptados pelas igrejas evangélicas. Isso representa uma redução de mais de 12,0% do universo de católicos aqui e nada indica que essa tendência de encolhimento tenha diminuído nestes dois últimos anos.  

Esse quadro terminou por constituir o verdadeiro e mais importante cabo eleitoral do Papa Francisco, que tem como missão reverter esse processo de perdas, de modo especial na América Latina, e recuperar a credibilidade da Igreja em meio a tantos desafios, inclusive dando fim ao luxo e pompa que presidem o cerimonial do Vaticano, conforme prometeu. Se vai conseguir levar essa missão adiante e com êxito só o tempo dirá, mas sua escolha está firmemente ancorada na expectativa de que um sul-americano, por motivos óbvios, é o mais indicado para resgatar as ovelhas desgarradas do rebanho da Santa Igreja e manter a Empresa Católica saudável e lucrativa.

(*) Mario A. Menezes –  Agrônomo e Ambientalista

mario.menezes63@gmail.com

  

 

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