Milhares de bolivianos estariam trabalhando em condições de escravidão em fábricas têxteis no Brasil, principalmente em Rio de Janeiro e São Paulo, denunciou nesta sexta-feira (8) em La Paz o embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano.
Junto com parlamentares brasileiros, o diplomata pediu um acordo entre os dois países para solucionar esta grave situação.
— Pode haver entre 50 mil e 100 mil bolivianos nesta situação de escravidão.
Segundo o diplomata, esta informação foi obtida a partir dos registros utilizados pela delegação boliviana no Brasil, destacando que se trata de uma situação que os governos boliviano e brasileiro analisam cuidadosamente para implantar leis e políticas comuns.
O deputado federal Walter Feldman (PSDB/SP), em entrevista coletiva, afirmou que “as condições [destes trabalhadores] são de escravidão”.
— Até 18 horas por dia de trabalho, com condições sanitárias e de moradia que são absolutamente impróprias para pessoas do ponto de vista dos direitos humanos e trabalhistas.
Em La Paz, Feldman explicou que o Brasil faz campanha para erradicar este tipo de escravidão no campo e nas fábricas.
O deputado informou que nos dois a três últimos anos, “tem havido uma migração diária de 700 a 800 bolivianos que entram no Brasil, tendo como destino especialmente São Paulo”, onde são empregados na indústria têxtil.
O embaixador boliviano também informou que há dados de que cada operário boliviano ganha “US$ 0,15 [cerca de R$ 0,28] por peça de vestuário que confecciona e que esta peça se vende em até R$ 100”, cerca de US$ 52.
— Vemos que tem gente que está ficando milionária às custas de umas quantas pessoas.
Justiniano destacou que uma breve investigação na Bolívia permitiu detectar na cidade de El Alto, vizinha a La Paz, “agências de emprego onde se recrutam os migrantes e é impressionante que a polícia [boliviana] não faça nada”.
Cinco parlamentares brasileiros que integram uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) estão na Bolívia para ampliar suas indagações sobre o tráfico de pessoas com destino a fábricas têxteis em grandes cidades do Brasil.
Os legisladores se reuniram com colegas bolivianos, organizações sociais e empresários, denunciando que podem estar em funcionamento redes de tráfico de pessoas que captam mão de obra para enviar ao Brasil. Informações da AFP.